Paul Otlet

Paul Otlet
Paul Otlet

Quando se fala em Ciência da Informação, Paul Marie Gislain Otlet (1868-1944), certamente, é um dos homens responsáveis por muitos estudos desenvolvidos na área. Nascido em Bruxelas, capital da Bélgica, Otlet foi empresário, advogado, ativista da paz e focou suas análises no campo da “documentação”. A Classificação Decimal Universal (CDU), tipo de classificação utilizado nas bibliotecas, é uma das criações deste autor.

Otlet teve como grande parceiro o político e professor Henri La Fontaine, com o qual, em 1907, criou o Escritório Central de Associações Internacionais, renomeado, em 1910, para a União das Associações Internacionais. Eles também criaram um grande centro internacional chamado primeiramente de Palais Mondial (World Palace) e, mais tarde, denominado Mundaneum, onde seriam abrigadas as coleções e as atividades dos seus diversos organismos e institutos. Infelizmente, anos depois, o Mundaneum começou a enfrentar dificuldades financeiras e teve de ser fechado ao público, sendo retomado somente em 1968 por um estudante de pós-graduação chamado W. Boyd Rayward, interessado na vida do autor.

Otlet e La Fontaine realizaram vários trabalhos juntos, engajando ideias políticas internacionais que foram incorporados na Liga das Nações e do seu Instituto Internacional de Cooperação Intelectual (precursora da UNESCO). O seu companheiro, Henri La Fontaine, em 1913, ganhou o Prêmio Nobel da Paz, e persistiu nos seus ideais políticos de um novo mundo baseado na difusão global da informação e na criação de novos tipos de organizações internacionais. Juntamente com Henri, Otlet fundou também o Office International de Biographie, com o objetivo de organizar uma biografia universal, intitulado como Repertoire Bibliographique Universel (RBU).

Além disso, ele escreveu vários ensaios sobre como organizar o mundo do conhecimento, resultando em dois livros: o Traité de documentation: le livre sur le livre: théorie et pratique (1934) e Monde: Essai d’universalisme (1935). A obra Traité de Documentation antecipa inúmeros conceitos hoje adotados sobre a organização de redes internacionais de cooperação, além de definir o campo da documentação e sistematizar teorias, métodos e técnicas para organizar o conhecimento registrado e distribuí-lo. Já o livro Monde trouxe a visão sobre um “cérebro mecânico coletivo” que guardaria todas as informações do mundo, as quais seriam disponibilizadas facilmente por intermédio de uma rede mundial de telecomunicações.

Ele foi mesmo um precursor, pois em 1934 – anos antes de Vannevar Bush imaginar o Memex e décadas antes de Ted Nelson idealizar o termo “hipertexto” – Paul Otlet visionou a internet como uma estrutura chamada reséau, rede, teia de conhecimento humano.

Otlet apresentou esta ideia como “uma mesa móvel construída como uma roda, ligada por uma rede de raios de roda dobradiços sob uma série de superfícies móveis. Tal máquina permitiria, então, a pesquisa, a leitura e a escrita dos usuários através de uma imensa base de dados mecânica armazenada.” A novidade desse novo ambiente era mais ampla do que a permissão de recuperação de documentos aos usuários. Com essa arquitetura, seriam permitidas as relações entre dois ou mais documentos, formando a partir deles o que se poderia chamar de Livro Universal.

Mundaneum

Mundaneum: a Internet em fichas de papel

Otlet imaginava o dia em que os usuários mesmo distantes poderiam acessar a base de dados, através de um “telescópio elétrico” conectado a uma linha telefônica, recuperando uma imagem para ser projetada em uma tela plana remota. Naquele tempo, essa noção de rede documentária era ainda tão recente que ninguém imaginava nenhuma palavra para descrever essa conexão, até que ele inventou uma: “links”. Otlet concebia os links como conexões que portariam significado, por exemplo, na forma de anotações que informariam se determinados documentos concordavam ou discordavam. Esta percepção do autor obtinha vantagem se comparada aos hiperlinks modernos.

Pode até ser exagero dizer que Otlet exerceu influência direta no posterior desenvolvimento da Web, mas é válido ressaltar que ele antecipou muito dos problemas que se tenta resolver hoje, como o excesso da informação publicada, as limitações dos mecanismos de armazenamento e recuperação, a busca desesperada por um modelo classificatório que auxilie a armazenar, administrar e interpretar o capital intelectual coletivo da humanidade. Sendo assim, é interessante destacar sua visão com o seguinte trecho do seu último livro, Monde:

Tudo no universo, e tudo do homem poderiam ser registrado na distância em que foi produzido. Dessa maneira uma imagem móvel do mundo poderia ser estabelecida, um verdadeiro espelho de sua memória. De uma distância, todos poderiam ler textos, ampliados e limitados ao assunto desejado, projetado em uma tela individual. Dessa maneira, qualquer pessoa sentada em sua cadeira poderia ser capaz de contemplar a criação, como um todo ou em certas partes.

Apesar de Otlet ter passado toda sua vida de trabalho na era anterior aos computadores, ele possuía evidente senso de antecipação quanto às possibilidades da mídia eletrônica.


Autores:
Celson Ramos; Leandro Heleno.
Edição:
Marcela Lino.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_otlet
http://bsf.org.br/2008/09/25/paul-otlet-inventor-da-internet/
http://infogente-biblio.blogspot.com/2010/04/paul-otlet-biografia.html
http://mundobibliotecario.wordpress.com/2008/10/19/um-pouco-sobre-paul-otlet/
http://www.bib.ualg.pt/bibliotecas/cdu.htm

1 comentário

Arquivado em Profissionais/Cientistas da Informação

Uma resposta para “Paul Otlet

  1. Edu

    Olá! Parabéns pelo blog! Era o tipo de conteúdo que estava faltando na biblioblogosfera brasileira! Aproveito para convidá-los a visitarem o blog http://infobci.wordpress.com, onde colaboro.

    Até mais,
    Eduardo.

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